quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Don't tell Théo

Théo era um menino esperto. Apesar de ter seus inocentes 12 anos conseguia entender os sermões de sua mãe de um modo que só o tornaria mais inteligente e forte para o que estava por vir. O que estava por vir era uma tragédia, uma catástrofe generalizada em sua vida. Era o fim do ano de 1999 e o Bug do Milênio não saia das manchetes de todos os jornais que ele conseguia ler escondido do pai. Seu pai, muito conservador, tentava evitar que Théo ficasse sabendo da tristeza que era o mundo, evitava que o menino lesse jornal. Mal sabia ele que na Internet o garoto via aquilo, e muito, muito mais. A Internet havia se tornado parte integrante da personalidade daquele garoto, suas idéias eram todas virtuais e seu vocabulário cheio de "jargões" como "ficar offline", "deletar algo" ou "surfar na web". Como já foi dito, estava chegando o Bug do Milênio e isso o deixava maluco.

Lendas e teorias foram espalhadas por todos em relação às verdadeiras consequências desse evento. Até hoje poucas pessoas sabem exatamente do que se tratou tal fenômeno. Não vem ao caso explicá-lo nesse momento, basta dizer que a mudança dos anos 1900 para 2000 fariam com que algumas máquinas de computadores não conseguissem alterar suas datas de tal maneira que grandes empresas totalmente dependentes de computadores teriam prejuízos seríssimos. A Internet comum, que se usa em casa não seria afetada, entretanto só a possibilidade de algo acontecer com seu Windows 98 já o deixava totalmente paranóico. Théo poderia estar jogando bola ou brincando na rua. Mas ainda assim preferia passar o tempo em chats do UOL.

Théo sabia que a vida real existia, era um garoto perspicaz, ele sabia que por mais fácil que seja a vida virtual, a real era bem mais legal. Ele adorava espiar seu vizinho pela janela do quarto. Via o rapaz que parecia ser mais velho, 18 anos talvez, ele era um tanto sozinho, em seu quarto fechado e cheio de pôsteres do Red Hot Chilli Peppers. Théo achava divertido observá-lo, e teve uma brilhante idéia, ele usaria seu computador para digitar o dia-a-dia do vizinho. Para isso ele precisava de um nome fictício. Pensou muito bem em vários nomes e decidiu dá-lo o nome do personagem de um filme que ele tanto gostava. Pronto, seu vizinho agora era Edward, de Edward Mãos-de-tesoura. Quanto mais observava Edward, mais Théo se sentia intímo e intrigado com as coisas que deveriam passar na vida do colega desconhecido. O garoto imaginava que Edward também estivesse transtornado com o Bug do Milênio, afinal essa história chegou ao ponto de envolver até o fim do mundo. Você já deve imaginar o quanto Edward sofria, sua idade, aquele momento da vida de qualquer um não é fácil, mas não conte ao Théo sobre isso. Não assuste o garoto.

Théo começou sua jornada escrevendo tudo o que via e fazendo suas inocentes observações de 12 anos de experiência sobre seu novo companheiro de não-fazer-nada:

"Olá, estou observando Edward há alguns minutos, ele acabou de desligar o telefone e parece estar um pouco transtornado..."


CONTINUA...

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